Lena e Jorge estão desempregados e não recebem subsídio há um ano. A sua situação económica tornou-se insustentável e tiveram de abandonar a casa alugada em que viviam. O jovem casal mudou-se com todas as suas coisas para uns urinóis públicos, onde vive feliz e com todas as comodidades.
Houve uma época em que Lena Barros e Jorge Leão viviam felizes num pequeno apartamento nos arredores de Lisboa. Tinham um Citroen AX e inclusive saíam de vez em quando para jantar num restaurante chinês. "Isso acabou-se ", recorda Jorge com uma certa nostalgia.
"Na altura trabalhava como advogado numa pequena empresa imobiliária. O negócio mudou de dono e foi de mal a pior até que fechou e eu fiquei no desemprego."
Jorge emociona-se e é a mulher, Lena, quem continua. "A primeira coisa que vendemos foram umas porcelanas chinesas fabulosas que nos ofereceram quando nos casámos. Não conseguimos muito, uns 25 euros, mas vieram mesmo a calhar." Pouco a pouco foram vendendo tudo para sobreviverem. "O carro deu-nos para uns meses, mas não foi o pior de tudo", explica Jorge. "A consola de jogos vídeo aborreceu-me muito, o mesmo com o gato, que começou a dormir com a Lena e comigo quando ficou sem cama. Mais tarde também tivemos de vender o gato."
Depois dos primeiros meses o casal decidiu mudar-se para Paris face à possibilidade de Lena encontrar trabalho na boutique de uma amiga francesa que tinha estudado com ela.
"Em Paris nos primeiros dias estivemos a dormir na estação de Montpamasse", explica Lena. "Era incómodo e barulhento e então tive a ideia de nos mudar-mos para uns urinóis públicos que tinha visto durante um passeio." Os urinóis são pouco frequentes e, quando alguém tenta fazer aí as suas necessidades, encontra-os ocupados até que se cansa de esperar e se vai embora. "Nunca tivemos nenhum problema desse tipo", diz Lena, "excepto uma vez que chegou uma senhora muito gorda que estava com uma diarreia terrível. Fez-me pena e abri a porta para que a mulher se pudesse aliviar. Acabou por ficar a tomar chá e eu expliquei-lhe qual era a nossa situação."
Lena e Jorge não pensam mudar-se de momento. Têm a sua televisão, o seu rádio e umas camas verticais - sacos cama - como as de montanha. "Não é incómodo quando nos acostumamos", asseguram.Lena não conseguiu o emprego na boutique. Agora transformaram a casa num pequeno museu que as pessoas visitam. Vendem as entradas a dois francos (cerca de sessenta escudos) e com isso se vão arranjando.
Este casal só recebe na sua casa visitas de amigos Portugueses.
Fonte: Notícias do Mundo, Out. de 1994 - Ouvistes falar
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