" Vários médicos tinham-me garantido que os meus filhos não seriam como eu porque, ao que parece, as duas cabeças não são um caso genético",explica-nos Sylvie.
"A verdade é que, curiosamente, não me admirei quando, depois do parto, vi que o meu filho tinha dois pescoços e duas cabeças."
Sylvie, que vive isolada e não gosta de sair muito, tinha-se recusado a falar com qualquer jornalista até agora. O que não espanta, porque quando caminhava pela rua ou vai às compras as pessoas não param de a olhar."É muito mais insuportável desde que o Arnaud nasceu!", lamenta-se.
"Se acedi hoje a revelar a minha história ", reconhece Sylvie, "é principalmente para ajudar pessoas que tenham qualquer defeito físico. Desejo que todos compreendam que há que aceitar as pessoas como são, e não como fenómenos de circo."
Sylvie nasceu numa aldeia perto de Dijon (França), em 1961, com duas cabeças, dois pescoços e duas colunas vertebrais. Os pais queriam que a operassem, mas os médicos explicaram-lhe que no seu caso era impossível. Em 1986 casou-se com André, o seu médico, que não conseguiu aceitar que o filho fosse como ela. "O meu marido deixou-me inclusive antes de eu sair da maternidade. Não percebo porquê. A mim não me incomoda tanto que o meu filho tenha duas cabeças...Mesmo que tivesse três não deixaria de o amar", afirma orgulhosa e feliz.
Tal como a mãe, o filho está a crescer longe do mundo. Só vê algumas crianças da mesma idade que aprenderam a aceitar a sua diferença. Aliás, Arnaud tem uma saúde de ferro: "O único problema", assinala a mãe, "é que é difícil falar por uma só boca. A maior parte do tempo expressa-se com as duas cabeças e custa-me a percebê-lo."
"Os médicos disseram-me que não o podem operar. Mas garantiram-me que não terá problemas e poderá levar uma vida normal como eu. E, como eu,continua Sylvie, "espero que um dia se possa casar e ter filhos; sem se importar que possam ter também duas cabeças. O que não é uma tragédia."
O aspecto físico desta corajosa mulher não a impede de ser feliz. Há seis meses que anda com um jovem executivo, e pensam casar-se no fim deste ano. Gilbert, o seu noivo, não se desconcerta com o aspecto exterior da noiva. Gosta da sua alegria e optimismo: "Sylvie é uma mulher muito divertida e brincalhona. Não se importa de inventar anedotas a respeito das suas duas cabeças. Aliás, cada vez que nos vemos come-me, literalmente, com beijos!"
Fonte: Notícias do Mundo, Out. de 1994 - Ouvistes falar
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